terça-feira, novembro 28, 2006

Redescoberta...

Há cerca de 2 anos decidi finalmente investir na escrita do meu 1º romance.
Já várias vezes tinha pensado no assunto mas só nesse momento me senti verdadeiramente preparado.
E comecei a escrever.
O que se segue é o resultado dessa investida.

"O meu corpo cheira a solidão. Transpira solidão. A tarde está quente e acabei de me masturbar. Agora estou mais calmo, quase sonolento. Agora posso pensar. Ou não pensar. Abandonar-me no prazer de nada fazer. Ouvir. Somente, ouvir. A musica, o lá fora, o cá dentro...

O tempo vai passando, cansado. E eu permaneço, sentado, a vê-lo passar. Julgar-me-ia um inútil se isso tivesse alguma utilidade... Mas não, deixo essa tarefa para os outros. Sentir-se-ão melhor nesse papel. E sempre dá algum sentido para as suas existências.

Cada vez mais me apetece ficar calado. Não tenho nada a dizer. Nem vontade de fazer conversa. O que é muito bom para a maioria das pessoas, pois todas têm imenso a dizer e ninguém que as ouça. Usam-me como parasitas, mas eu não me importo. É mais fácil assim. O amor devia ser mudo. Não, eu não quero falar de amor. Prefiro ficar calado.

A solidão não é uma opção. É inevitável como a morte. Morrer é sentir-se só ao lado de quem amamos. E eu morro quase todos os dias. O meu corpo grita e eu calo-me. Morro em silêncio.

Hoje marquei a minha primeira consulta no psiquiatra. Faltam quase três semanas para essa estreia.

Existem duas palavras-chave neste fascinante jogo que é a vida. Na minha e, talvez também, nas vossas vidas: medo e desejo. Dois reflexos dos sentidos. Esses mesmos que nos enganam todos os dias. Os sentidos. Mas o que seríamos sem eles? Seríamos capazes de amar?

Hoje é segunda-feira. Fiz 32 anos há três segundas-feiras atrás. E chorei nessa tarde. Em frente ao mar. Chorei, porque me senti avassaladoramente só. No entanto, só, já estava há muito tempo. Inconscientemente só. O medo ou o desejo é que nos tornam conscientes da solidão. Mas hoje não chorei. Pus o filme pornográfico no vídeo e bastaram alguns minutos para me vir. E materializar a minha solidão."



Afinal ainda não estava preparado, pois ele ficou-se por aqui.
Já não me recordo do porquê de ter parado com a sua escrita...

Humildemente, faço-vos uma pergunta:
devo continuar?

7 Comments:

At 7:29 da tarde, Blogger Su said...

Parece-me que tem muito futuro.
É uma escrita sincera, sem ser lamechas.
A linguagem é clara e simples.
Fiquei com vontade de ler o resto.

 
At 8:28 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Por vezes as conversas paralelas leva-nos a outros pensamentos. Explico. Ainda à pouco brincava com o Francisco acerca de não cobrar direitos de autor. Neste momento deparo-me com um texto seu e o meu primeiro pensamento é alertá-lo para que (re)pense essa sua vontade em mostrar neste mundo virtual os seus textos que muito lhe custaram a escrever (para já não falar de um possivel livro).
Francisco, não se esqueça que há sempre muito boa gente sequiosa por fazer dos pensamentos dos outros o ponto de partida para coisas menos bonitas. Muitas vezes se fala em plágio... eu continuo a preferir a palavra...ROUBO.
Acautele-se!

 
At 9:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Quanto à sua pergunta se deve ou não continuar.
Aqui deixo a minha humilde opinião.

Quando comecei a ler o seu texto lembrei-me de um livro de Samuel Beckett chamado "Malone está a morrer". Calma, calma...não estou a fazer comparações, mas simplesmente a dizer-lhe que a primeira coisa que me surgiu foi esse livro.
Penso que ao lembrar-me desse livro (que li há muito, muito tempo) só se justifica pela capacidade que o Francisco tem de transmitir aquilo que lhe é pessoal, intrinseco, ou seja, as suas emoções, afectos e sentimentos.
É preciso ter um conhecimento muito profundo de nós próprios para conseguirmos transmitir isso por palavras...mas a dificuldade está nos nossos estados de alma que nem sempre são constantes.
Aquilo que acontece e talvez por isso de repente deixou de dar seguimento ao seu texto, tenha a ver com a dificuldade de criar um livro que tem como base os sentmentos, afectos, emoções e a própria vida e com isso ser capaz de elevar a sua escrita a um nivel que não se torne repititivo, maçudo, pouco original e demasiado intimista.
Francisco, o que pretendo dizer-lhe é que deve continuar a escrever o tal livro que germinou á dois anos e deve fazê-lo porque é um querer seu, é o seu sonho e o sonho comanda a vida.
Acho que o Francisco tem os instrumentos para criar um livro, mas aquilo que aconselho é que repense a temática do livro, acrescentado outras coisas que se complementem e talvez saia daí um romance cheio de sensações, emoções, afectos, sentimentos, regados por uma história com principio, meio e fim.
Organize e estratifique uma linha condutora porque se continuar a expor os sentimentos que lhe surgem, aí ser-lhe-à mais dificil dar seguimento a uma história.
Sei que será capaz de o fazer.
Espero que não tenha sido demasiado intrometida, mas como pediu uma opinião....deixei a minha...vale o que vale!
Continuação de boa escrita.
Cumprimentos

 
At 11:57 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Bravo!!! Desde há algum tempo que não duvido das tua capacidades... de criatividade, de loucura, de conseguir utilizar e manipular as palavras... Parabéns e continua, claro!
Beijo!

 
At 10:42 da manhã, Blogger susemad said...

Acho que deves continuar. É uma escrita que chama, sem pretensões. Introduz outros personagens e cenários e obra ficará mais rica.
Agora se é para continuar e eu acredito que sim, espero só voltar a lê-lo quando estiver nas bancas das livrarias. Aguardarei até lá!

 
At 3:48 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Gostava de opinar em particular portanto se quiseres manda-me o teu email.

 
At 5:57 da tarde, Blogger André said...

Não devias colocar essa pergunta mas uma outra: gosto de escrever? Dá-me prazer?
Que se fodam os outros.
A arte é uma actividade de comunicação, mas é egoísta porque só o EU é que interessa. Quem não gostar, não gosta...paciência.
Não me parece que encontres neste mundo (bloguistico) algum crítico literário competente, por isso continua a escrever se gostares. E depois logo se vê.
Parte uma perna!

 

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